A notícia mais importante desta temporada de desfiles de alta-costura também se provou o ponto alto da tradicional semana, até agora: o retorno da Balenciaga ao calendário.
Demna Gvasalia, atual diretor-criativo, reviveu o segmento de couture da clássica casa de Cristóbal Balenciaga, fechada há mais de 50 anos. O trabalho não foi pouco: a empresa teve que refazer os ateliês, contratar nova equipe de costura e artesanias especializadas como o metiê pede e remontar o salon na George V, em Paris.
Para quem esperava uma coleção absolutamente disruptiva, dada a fama do estilista nascido na Geórgia, pode ter se surpreendido pelo caminho. Demna levou a alta-costura absolutamente a sério, apresentando um show tradicional e sem trilha sonora — ouvia-se apenas o farfalhar dos tecidos. Resultado de um mergulho nos arquivos do criador original, a coleção parte de um smoking usado pelo próprio Cristóbal para dar o tom. Só depois os códigos de Balenciaga se misturaram com as vontades de Gvasalia de fazer roupas “mundanas” na melhor técnica possível.
Daí vem os jeans com a barra alongada que fazem contraste com os casacos arquitetônicos, de cintura marcada ou ombro estruturado, os vestidos oversized usados com chapéus futuristas by Philip Treacy. Aqui e ali, a ironia street de Demna vai aparecendo mais forte – como nos roupões de banho ou nos hoodies de moletom ou nas shopping bags usadas como bolsas de luxo (ou seriam bolsas de luxo que parecem shopping bags?).
Respeitoso com o solo sagrado e com o heritage da Balenciaga, o novo criador nem quis tentar botar de cabeça para baixo os códigos da alta-costura. Tanto que a noiva do final é uma réplica exata de uma criação do próprio Cristóbal. A vontade aqui é ressuscitar um legado, de olho num público jovem que nunca se aproximou da couture e cresceu comprando as camisetas irônicas ou os tênis que Demna transformou em hits desejo de redes sociais. Mas sem assustar (muito) as consumidoras tradicionais dos salons. Uma aula de como perpetuar um patrimônio, sem naftalina.