O campeão potiguar em entrevista à Folha de São Paulo de hoje, que dedicou meia página ao atleta olímpico.
Campeão mundial de surfe em 2019, o potiguar Italo Ferreira, 27, não esconde do que mais sente falta daquele cada vez mais distante mundo anterior à pandemia do coronavírus.
“Viajar sem máscara. É terrível viajar de máscara”, conta, rindo, em entrevista por vídeo à Folha, direto de Baía Formosa, sua casa, no Rio Grande do Norte.
Ítalo não se lembra de ter ficado tanto tempo longe da cidade onde nasceu como durante as últimas etapas do circuito de 2021. Foram meses intensos que começaram ainda no fim de fevereiro com uma rígida e, segundo ele, quase enlouquecedora quarentena na Austrália: 14 dias dentro de um quarto de hotel do qual ele nem podia botar a cabeça para fora. Mas, saindo do isolamento, logo venceu a etapa de Newcastle do Mundial. Depois, sofreu derrota precoce em Narabeen, quando os árbitros não consideraram completa uma de suas manobras aéreas. Ele saiu da água revoltado e quebrou sua prancha no vestiário.
“Eu voltei [da quarentena] com muita energia e vontade. Mas aquele campeonato [Narabeen] acabou com toda a energia que eu tinha, quebrou as minhas pernas.
Tentei ficar feliz e me motivar, mas foi difícil, acabei sentindo bastante. Eu podia ganhar aquele evento, e as coisas saíram do controle. Aquilo me desmotivou bastante, e depois competi meio que não tão feliz”, revela
Após o nono lugar em Narabeen, ele foi quinto em Margaret River, terceiro em Rottnest Island e nono em Lemoore. Finalmente, pôde voltar para casa.
“Dei o ‘restart’, foi um início de temporada bem cansativo. Eu estava acostumado a ficar no máximo dois meses fora, mas foram quatro”, conta.
“O que me faz mais falta é poder ficar me divertindo com os amigos, surfando o tempo inteiro sem pressão, sem gente olhando. Aqui é pequeno, tem muita natureza, é tranquilo. Dá para treinar bastante, ver de onde eu vim, as coisas que continuam no mesmo lugar, as pessoas que gostam de mim. Voltar é recarregar, replanejar, sonhar novamente.”
Italo não esconde que sente falta de poder ter mais momentos como esses. São pequenos luxos que ele faz questão de se dar sempre que possível, tentando conciliá-los com o agitado calendário de competições e compromissos comerciais —além de entrevistas como esta.
Ou então de viajar com os amigos, como fez ano passado para as Maldivas, a melhor viagem de sua vida, segundo o próprio. Mas agora ele se prepara para embarcar em um outro sonho seu, a Olimpíada.
RUMO AO JAPÃO
Ele deve ir para o Japão em menos de duas semanas para se adaptar ao fuso horário e às condições da praia de Tsurigasaki.
“Se dependesse de mim, eu ficaria aqui até o último dia”, diz.
O período em casa, que no total vai durar cerca de um mês, pode ser crucial na briga por uma medalha.
Na Olimpíada, a disputa terá metade do tempo de uma etapa normal do circuito, o que pode deixar os surfistas à mercê das condições climáticas e da sorte de conseguir uma boa onda —e é aí que sua casa pode fazer a diferença.
A estreia olímpica do surfe será em uma praia de ondas baixas, assim como é Baía Formosa. Enquanto não embarca, ele aproveita as condições semelhantes para se adaptar às pranchas mais leves construídas especialmente para os Jogos.
Se são muitas as coisas de casa que o atleta valoriza, tem uma da qual ele não abre mão e leva na bagagem para onde quer que vá. É o cuscuz, que também o acompanhará na Olimpíada.