Se a China é o dragão, Xangai é a cabeça. Enquanto Pequim é o núcleo administrativo do país, a cidade costeira, voltada para as Coreias do Sul e do Norte, para o Japão e para a imensidão do Pacífico, é um dos principais centros financeiros do mundo, rivalizando com Nova York, Londres e Hong Kong. Maior cidade da região, ela é também a mais ocidental de todas — resultado da presença colonial de franceses, ingleses e americanos. Depois da II Guerra e da ascensão do Partido Comunista ao poder, tornou-se um pujante polo industrial têxtil, que logo se converteu em riqueza. Ao contrário da maioria dos chineses, austeros, boa parte dos 27 milhões de xangaienses tem gosto pela moda, culinária, carros e tudo de bom que o dinheiro pode comprar, o que faz da metrópole a nova capital mundial do luxo.
Com bolsa de valores, portos, centenas de shoppings, atrações turísticas e uma impressionante economia de mercado com hubs de inovação e investimento, o dinheiro parece fluir continuamente para a cidade: Xangai possui a sexta maior concentração de bilionários do planeta, o que faz com que grandes marcas tenham marketing ativo na cidade, não apenas com lojas on-line, mas também com espaços físicos, eventos e desenvolvimento de produtos para satisfazer o gosto local, ainda que este se revele cada vez mais universal e cosmopolita.
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Um dos pilares da valorização da metrópole asiática é o mundo da moda. No meio do ano passado, enquanto grifes francesas como Dior e Hermès revelavam suas novas coleções em transmissões de streaming direto de Paris, a Louis Vuitton abandonava as compatriotas e promovia um desfile às margens do Rio Huangpu, que corta a cidade. Pouco tempo depois, em outubro, a Shanghai Fashion Week consagrou-se como o único evento de moda do ano aberto ao público, com a participação de noventa marcas.
Nos últimos anos, além de abrir lojas, os europeus começaram a envidar esforços nas redes sociais chinesas e, em especial, no chamado livestream shopping, no qual a venda de produtos é feita pela internet durante a transmissão de eventos. Algumas marcas, inclusive, adaptaram seus produtos à cultura oriental, como fez a Dolce&Gabbana, que lançou uma coleção inspirada no festival Qixi, equivalente ao Dia dos Namorados e que turbinou o varejo em agosto passado. “Se, no Brasil, celebramos crescimento de 1% ao ano, Xangai sozinha tem se mantido, na última década, em um ritmo anual de 12%”, explica Carlos Ferreirinha, especialista no mercado de luxo. Como consequência, o segmento que atende o consumidor chinês de alta renda atravessou 2020 quase como se a pandemia não existisse.
A indústria da beleza também é atraída pela China como mariposas pela luz. Os chineses são os maiores consumidores de cosméticos depois dos americanos, com um mercado de mais de 38 bilhões de dólares. Em maio deste ano, a L’Oréal inaugurou em Xangai uma loja que oferece experiências personalizadas, como o reconhecimento facial que analisa a pele, facilitando a identificação dos melhores produtos para cada cliente.
Mas não só de moda e beleza vive Xangai. De carros elétricos a startups de tecnologia, a cidade com 6 300 quilômetros quadrados — quatro vezes maior que São Paulo — oferece culinária diversificada e de alto padrão, a ponto de figurar entres as campeãs do renomado Guia Michelin. O luxo está também presente na hotelaria, que tem como maior destaque o J Hotel — Shanghai Tower, o mais alto arranha-céu da China e o segundo do mundo, que impressiona pelo acabamento e pelos serviços oferecidos aos hóspedes — a maioria estrangeiros que sabem que o eixo do mundo, já há algum tempo, inclinou para a Ásia.
Publicado em VEJA de 21 de julho de 2021, edição nº 2747