Em uma de suas canções, um dos maiores compositores da história nacional cita alguns infortúnios rotineiros, mas traz o alento que costuma salvar o brasileiro da tristeza dos dias: “Tô me guardando pra quando o carnaval chegar”. A relação de Chico Buarque com o carnaval é íntima. E para valorizar esse legado e a magia entorno do repertório magistral desse artista, foi formado um grupo carnavalesco para tocar, exclusivamente, o cancioneiro buarquiano durante a sexta-feira do Carnaval 2024 em Natal. É o FullChico.
E para arrepiar cada paralelepípedo das ruas do Pólo Petrópolis, dezenas de mulheres – sim, o grupo é idealizado e formado só por mulheres – se muniram de batuque e entusiasmo para aprender o repertório de Chico Buarque no ritmo percussivo. São tambores, agogôs, tamborins, timbas, surdos, tarol e repique. tudo orquestrado pelo mestre Jorge Negão. No dia do desfile, se juntam a elas a orquestra formada pelo Ong Ilha de Música, comandada pelo maestro Gilberto Cabral, numa fusão de metais e percussão para alegrar o folião e o fã da boa música.
O FullChico tem ensaiado desde o mês de junho. Todos os domingos se reúne no pátio da Fundação Capitania das Artes para afinar o set list de canções. No próximo mês, quando se celebra o Outubro Rosa, o grupo, que se apresenta com camisetas na mesma cor e que representa ainda as cores da escola de samba adotada por Chico, a Mangueira, pretende realizar ensaios abertos pela cidade. Apresentações que também representam o início do sonho da produtora e “devota” de Chico Buarque, Ilana Félix.
“A ideia de criar o FullChico surgiu da junção de alguns fatores: o momento que passamos no último 8 de janeiro, da tentativa de golpe. E Chico talvez tenha sido o artista que mais cutucou o regime ditatorial com suas músicas. Também o carnaval pulsante que encontrei em Natal após passar anos fora do Estado e também a inspiração em blocos carnavalescos que homenageiam Chico Buarque, a exemplo do Mulheres de Chico, no Rio de Janeiro, e o Soul Chico, em São Paulo, que canta suas canções com pegada soul music”, conta Ilana.
O nome FullChico surgiu quando Ilana soube da ideia da cantora Marina Lima em mudar o título da canção Fugaz, composta pelo seu irmão, o poeta Antônio Cícero, para Fullgás, ou seja, cheio de gás, de energia, de entusiasmo. “Logo me veio o nome FullChico, que também traz essa dualidade com o nome Fuxico. E o bloco também vem cheio de energia, de mulheres amantes de Chico, do batuque e do carnaval”, conclui Ilana.